segunda-feira, 15 de julho de 2013

Depois que vi o infinito

Fogueiras são forças hipnotizantes.
Esteve às voltas, noites dessas.
Esse vento visível e desidratante é todo junino e julino no seu interior, mas antes era todo ancestral.
Fogo é coisa de sonhador...
Elemento revolucionário!
Depois virou indústria.
As coisas todas se retorcendo, desprovidas de sua água, vão desvivendo até encinzentarem num empoeiramento. Se for papel, queima de um jeito. Mas, se for madeira, que é um jeito diferente de ser papel, difere a desfiguração.
Muitas são as coisas que podem ser vistas diante de uma fogueira. Inclusive a cegueira.
Quando se cansa, pode-se olhar para o céu. Estrelado. As estrelas são luzes distantes que teimam em ficar perto naquele sempre inalcançável. Um estado vivo enquanto morto. As estrelas demoram-se a morrer.
Chorava ao ver o fogo estralante, em tons de azul, de vermelho-laranja, vermelho-sangue. Amarelo até. Mentira: era lilás.
Força tanta que era, poder transmutado num amarelo cósmico lacrimejante.
Dois olhos enfaiscados inundaram brasas refrescantes que escorreram em erupções constantes, ainda que controladas.
Fogo tem som só que também silencia quando quer. Seu som é vibrante e escaldante. Já teve ouvidos para ouvir? Soa como estrelas que fogem quando a água escorrega delas, queimante.
E pode até ter cheiro, se for um arroubo de flor. Se tiveres coragem de ver o sol sob as folhas secas... não aquele sol vivo de brisa que envivece. Falo daquele sol timbrante que esturrica toda a clorofila esparramada na folhagem, aquele que destitui toda a beleza primaveril em cinzas carbonizadas. Um sol de mamona rachada. Sabes? Esse! O sol-fogueira que destrói toda a vida da flor, mas em troca a transforma em perfume solto no ar. Cinza perfumante que dá vontade de suspirar.
E de morrer de ensuspiramento numa intoxicação.
Depois que ele queimar tudo, vem o mar guardado nas nuvens e faz a terra cheirar na ponta do nariz-gotícula. Mas também se pode ver o fogo-fumaça-de-asfalto porque, eu disse, depois tudo virou indústria. É só olhar ao redor depois que a gente esquece das estrelas.
Quando todo um ciclo, toda a morte refeita, a vida vira vento colorido bailante e água que arde na pele e no peito. A viagem é pra dentro, infinita. E quando você chega dela tens um cheiro de defumação colado no corpo. Não podes ter imunidade ao infinito porque nele estás.
Oito é infinito, já viu? A Matemática foi quem levantou.


Depois que voltou do infinito sonhou com alguém que trabalhava muito. E tinha um plano.
Sabes?

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