sexta-feira, 28 de junho de 2013

O título vem depois

Andou viajando, na vida, ultimamente.
Viajando na vida andava sempre. Mesmo que estivesse parada. A cabeça sempre foi de menina que não parou em lugar algum. Imaginação é o primeiro instrumento que tinha para ser livre.
Mas andou viajando pra além do imaginário. Este anda com ela pra onde ela for, ainda que fique quieta.  E sobretudo por isso. Mas andou a viajar diria, mais precisamente.
Nesse viajamento, houve momentos em que ela achou que a viagem estava acabada quando apenas tinha acontecido uma pausa. Dessas que também podem ser musicais.
Quando a viagem retomou a si própria, ela disse que não tinha nada a ver com aquilo. Mas sempre soube, ainda que se enganasse sobre o fim da viagem - porque tem uma intuição muito intuitiva, essa menina - que era só o começo. Pois então...
Isso tem a ver com o momento da vida. Não tem casa estabelecida. Um dia está na casa da mãe e do irmão. Outro dia na casa das amigas lá do outro lado do oceano. Outro dia na casa da outra amiga em São Paulo, no outro dia na casa do amigo-irmão e d@s vári@s amig@s que fez no sertão da pauliceia quando fez uma pausa de treze compassos. Enfim. Trânsito. Desses que colocam os carros um atrás do outro nas ruas, mas também do outro, aquele que faz com que você não consiga desfazer a mala. É isso, pousos de libélula.
Demorou pra entender o que era isso. Era tudo e não era nada. Ficou treze anos parada em um lugar, que era novo, antes. Depois ficou velho. O lugar, tudo. Ela inclusive. Treze compassos, dez dezenas e três unidades contidas em dois milênios ocidentais. Acostumou-se com aquela felicidade e com as tristezas guardadas no tempo-espaço do mesmo compasso. Precisava ser triste e feliz em outro lugar, soltar outras notas, cantar em outras afinações, ver filmes com intervalos e criar novos filmes na memória. E ela, que vê como sua a responsabilidade de inventar a própria vida, inventou outros lugares na cabeça e fora dela. E os lugares também inventaram-na que ninguém é imune a nada.
Mas este não é um escrevinhar sobre movimentos da vida, que ela ainda não sabe pra onde vai, mas tem ido. Era continuar a dizer sobre papéis. Ia dizer que era um escrever sobre papéis, de novo. Mas olhou pras linhas de trás e viu que era isso e mais outras coisas. Os compassos. Os movimentos. 
Toda vez que viaja compra papéis: pros amigos mais amados. Oferece coisas ridículas, árvores rasgáveis. Um dia, se lhe odiarem, rasgar-lhe-ão todos os presentes. Quando percebeu que comprava muitos papéis de presente pra si própria e para @s querid@s, passou a comprar lápis. O que será que isso quer dizer? Ou não quer dizer? Ou quer dizer e não diz? Ou diz e não quer dizer?
Lembrou-se de um tipo de papel comprado recentemente para si. Alice através do espelho. Abandonou a viagem da Alice na outra margem do rio oceano, tinha de prosseguir (n)a sua própria viagem.
Quando a viagem já tinha assentado nela, assentou num banco de passageiro para o retorno. Como num acaso interessado, deparou-se com um filme que há muito queria ver. 
Achou que, como as músicas que tem na vitrola da cabeça, aquele era um filme que encerrava bem aquela etapa da viagem. Um filme pode ser bom por si mesmo, mas as vezes não é por isso: é porque você esteve envolvido nele. Esteve no filme, com ele. Esse filme, desse caso, é composto por coisas tão absurdas, quanto os absurdos que ela tinha na cabeça e na memória. Enquanto via, dizia que não era possível, chegava a ser altamente contestável.  Era um clichê aquilo, porque enquanto o via, pensava e não conseguia esquecer que estava diante de um filme. Contestava o filme. Dizia que não tinha nada com aquilo, como não tinha nada a ver com a viagem. O trailer não mostra nada - acho que é daqueles trailers que não consegue dizer o que o filme é. Assim como o caminho da viagem. Tantos caminhos cabem nele que se faltar um, não se pode dizer o que a viagem é. O trailer e o caminho não mostram nada, mas devem mostrar alguma coisa. 



No fim, a viagem é sempre pra dentro.


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