quinta-feira, 27 de junho de 2013


Ela fez, hoje, algo que nunca tinha feito.
Beijou a mãe. Assentou o banco do passageiro do amigo de infância do irmão, preto retinto.
Ele, irmão da amiga dela. Estudaram juntas n'alguma série dessas. Ele, o amigo do irmão, perguntou pra onde ela ia. Não sabia muito bem. Reaprendia a andar em São Paulo. Disse então aonde é que queria chegar. Ele ensinou que fosse à Guaianases - era isso que ela nunca tinha feito na vida, mesmo tendo morado na zona leste paulistana, que é imensa mesmo. Pegou um micro-ônibus ou foi pega por ele. Tudo teria sido um experimento antropológico se ela já não estivesse impedida de re-fazer a matrícula na pós-graduação. De toda forma, uma vez antropóloga, sempre! Por todo o caminho até a estação de trem percebeu toda aquela contestação civilizatória da paisagem. Toda, ou quase toda, a epistemologia da periferia é anti-burguesa. E a polícia, várias viaturas a prestes, a postos. 
Uma vez na estação, aquele mundo de gente. O amigo do irmão disse que era bem fácil. O trem expresso só pára em Itaquera e é mais rápido que o cata-loko cotidiano. No fim, achou bom. Pôde ver as obras do Itaquerão. Porra, como isso aqui cresceu! É bom sair da bolha. É bom fechar o ciclo. De repente, olhou pro lado: conseguiu sentar. Dezessete horas. Vagão lotado sentido Luz. Um menino de moicano joga qualquer coisa no PSP (coisa que ela nunca tinha visto na vida também) achou que era futebol, desses que passa nas Tvs ligadas na periferia de Brasil e Uruguai. Estava no Tatuapé. Na sua frente um anúncio de chicken M'c Bits dizendo "compartilhe se for capaz". O trem segue, tem horas que ele parece metrô, esse expresso que sai de Guaianases. Na frente dela, um menino, anel de compromisso no dedo, alargadores nas orelhas e os outros dedos manejantes no aparelho que é condição de sobrevivência no transporte público: um celular que toca música. O menino do PSP desceu em qual estação? Agora o menino tem outro moicano, mas mais discreto. Bem mais. E os auscultadores, tampam os ouvidos mas não a mente. Escureceu. Que horas são? Lembrou-se do Itaquerão e desejou que a torcida corintiana lotasse a geral inacabada. É também por isso que se lotam as ruas. Porra, como Itaquera cresceu (escreveu 'venceu' por ato falho, mas também por convicção). Odebrecht sinalizando a placa entre os símbolos do curintha. Não é corinthiana nem fodendo. Mas sonhou o Itaquerão lotado de ZL, preta retinta. 
O Danilo tinha razão. Dezessete e trinta. Em meia hora de Expresso, tava no Brás. 

Na Luz, quando baldeava pro metrô esbarrou com o menino do alargador. Ele não tinha descido, mas sentado. Lembrou da sua blusa: 'enjoy coca-cola'. A viagem não acabara, ela sabia.

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